segunda-feira, 5 de julho de 2010

FROEBEL E O SURGIMENTO DO PRIMEIRO JARDIM DE INFÂNCIA


Filho de um pastor protestante, Friedrich Froebel nasceu em Oberweissbach, no sudeste da Alemanha, em 1782. Nove meses depois de seu nascimento, sua mãe morreu. Adotado por um tio, viveu uma infância solitária, em que se empenhou em aprender matemática e linguagem e a explorar as florestas perto de onde morava. Após cursar informalmente algumas matérias na Universidade de Jena, tornouse professor e ainda jovem fez uma visita à escola do pedagogo Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), em Yverdon, na Suíça. Em 1811, foi convocado a lutar nas guerras napoleônicas. Fundou sua primeira escola em 1816, na cidade alemã de Griesheim. Dois anos depois, a escola foi transferida para Keilhau, onde Froebel pôs em prática suas teorias pedagógicas.
Froebel foi totalmente independente e crítico, formalizando os seus próprios princípios educacionais.
Na sua principal obra: A educação do homem (1826) ocorre a afirmação que:
"A educação é o processo pelo qual o indivíduo desenvolve a condição humana, com todos os seus poderes funcionando com harmonia e completa, em relação à natureza e à sociedade. Além do mais, era o mesmo processo pelo qual a humanidade, como um todo, se elevando do plano animal e continuaria a se desenvolver até sua condição atual. Implica tanto a evolução individual quanto a universal".
Cada objeto do Universo é parte de algo mais geral e também uma unidade e se for considerado em relação a si mesmo. A atividade produtiva exige a integração da memória, da percepção, do raciocínio, da vontade com os nervos, músculos e órgãos sensoriais.
Para Froebel, o indivíduo é no campo das relações humanas uma unidade, quando considerado em si mesmo, mas relacionando-se com um todo maior.
Froebel também defendeu o desenvolvimento genético, destacando a continuidade do desenvolvimento, bem como a unidade das fases do crescimento.
Para ele, o desenvolvimento ocorre segundo as seguintes fases: a infância, a meninice, a puberdade, a mocidade e a maturidade, todas igualmente importantes.
A infância é o período em que a criança deve ser protegida pelos pais, porque ela é dependente. As atividades motoras e os sentidos são muito importantes nesse momento da vida.
Em 1837, surge o Kindergarten (Jardim de Infância), onde as crianças eram consideradas plantinhas de um jardim, cujo jardineiro seria o professor. A criança se expressaria através das atividades de percepção sensorial, da linguagem e do brinquedo. A linguagem oral se associaria à natureza e à vida.
Froebel foi o primeiro educador a utilizar o brinquedo, como atividade, nas escolas; as atividades e os desenhos que envolvem movimento e os ritmos eram muito importantes. Para a criança passar a se conhecer, o primeiro passo seria chamar a atenção para os membros de seu próprio corpo, para depois chegar aos movimentos das partes do corpo.
Os blocos de construção, chamados de materiais específicos, eram usados pelas crianças nas suas atividades criadoras. Se trabalhava com outros tipos de materiais, como: papel, papelão, argila e serragem.
Froebel idealizou recursos sistematizados para as crianças se expressarem, dando o nome de "dons" porque Deus oferecia para que as necessidades infantis fossem bem desenvolvidas. Os chamados "dons" eram a bola, o cubo e o cilindro. Os blocos eram utilizados em uma medida bem restrita, enquanto as demais atividades eram mais livres.
No período da meninice - dos seis ou sete anos aos nove ou dez anos - a instrução e a preparação para a firmeza da vontade eram valorizadas. As atividades construtivas eram bem variadas e cada menino cuidava do seu próprio jardim, passando para atividades comunitárias com dois ou mais meninos.
Nesta fase, os brinquedos possuem uma característica mais intencional porque contribui para a formação das qualidades morais. As histórias, os mitos, as lendas, os contos de fadas e as fábulas tinham um enorme valor para Froebel.
Enquanto os brinquedos físicos davam força e poder ao corpo, as histórias desenvolviam o poder da mente. As excursões a montanhas e vales eram semanais na escola de Froebel. Na sua opinião, a natureza tinha um enorme poder para auxiliar o menino a compreender a si mesmo e aos outros. Froebel, valorizava a família, tanto quanto Pestalozzi, abrangendo a função familiar aos planos biológico, social, religioso e educacional.
Foi o primeiro educador a captar o significado da família nas relações humanas.
Ele observava muito a maneira de agir das crianças e chegou a conclusão que elas se valiam de símbolos na hora de brincar.
Exemplo: Um taquinho de madeira podia ser um determinado animal, ou até mesmo, uma boneca.


Algumas das principais idéias do trabalho de Froebel:

* A educação baseia-se na evolução natural das atividades da criança;

* As atividades espontâneas adquirem um desenvolvimento verdadeiro;

* Na educação infantil o brinquedo é fundamental;

* Para conseguir integrar o crescimento de todos os poderes: físico, mental e social, Froebel, variou nas atividades construtivistas;

* A atividade construtivista pode causar uma grande harmonia e espontaneidade no controle social;

* Os currículos das escolas devem estar baseados nas atividades e interesses desde o nascimento e em cada fase da vida infantil;

* A humanidade ainda está em processo de desenvolvimento, e a educação ainda é a melhor solução para um futuro melhor;

* O futuro desenvolvimento da raça depende exclusivamente da educação das mulheres;

* O saber não resume-se em um fim em si mesmo, mas funciona relacionado com as atividades do organismo.

Em 1851, confundindo Froebel com um sobrinho esquerdista, o governo da Prússia proibiu as atividades dos jardins-de-infância. O educador morreu no ano seguinte, mas o banimento só foi suspenso em 1860, oito anos mais tarde. Os jardins-de-infância rapidamente se espalharam pela Europa e nos Estados Unidos, onde foram incorporados aos preceitos educacionais do filósofo John Dewey (1859-1952). Ele era compreendido por muitos que o consideraram um inspirado, mas também por muitos foi condenado.

Treino de habilidades

Por meio de brinquedos que desenvolveu depois de analisar crianças de diferentes idades, Froebel previu uma educação que ao mesmo tempo permite o treino de habilidades que elas já possuem e o surgimento de novas. Dessa forma seria possível aos alunos exteriorizar seu mundo interno e interiorizar as novidades vindas de fora – um dos fundamentos do aprendizado, segundo o pensador.


Brinquedos criados para aprender

Crianças de um jardim-de-infância brasileiro: brincadeiras para desenvolver a criatividade
Froebel considerava a Educação Infantil indispensável para a formação da criança – e essa idéia foi aceita por grande parte dos teóricos da educação que vieram depois dele. O objetivo das atividades nos jardins-de-infância era possibilitar brincadeiras criativas. As atividades e o material escolar eram determinados de antemão, para oferecer o máximo de oportunidades de tirar proveito educativo da atividade lúdica. Froebel desenhou círculos, esferas, cubos e outros objetos que tinham por objetivo estimular o aprendizado. Eles eram feitos de material macio e manipulável, geralmente com partes desmontáveis. As brincadeiras eram acompanhadas de músicas, versos e dança. Os objetos criados por Froebel eram chamados de "dons" ou "presentes" e havia regras para usá-los, que precisariam ser dominadas para garantir o aproveitamento pedagógico. As brincadeiras previstas por Froebel eram, quase sempre, ao ar livre para que a turma interagisse com o ambiente. Todos os jogos que envolviam os ‘dons’ começavam com as pessoas formando círculos, movendo-se e cantando, pois assim conseguiam atingir a perfeita unidade, era importante acostumar as crianças aos trabalhos manuais. A atividade dos sentidos e do corpo despertariam o germe do trabalho, que, segundo o educador alemão, seria uma imitação da criação do universo por Deus.

Ao mesmo tempo que pensou sobre a prática escolar, ele se dedicou a criar um sistema filosófico que lhe desse sustentação. Para Froebel, a natureza era a manifestação de Deus no mundo terreno e expressava a unidade de todas as coisas. Da totalidade em Deus decorria uma lei da convivência dos contrários. Isso tudo levava ao princípio de que a educação deveria trabalhar os conceitos de unidade e harmonia, pelos quais as crianças alcançariam a própria identidade e sua ligação com o eterno. A importância do autoconhecimento não se limitava à esfera individual, mas seria ainda um meio de tornar melhor a vida em sociedade.

Além do misticismo e da unidade, a natureza continha, de acordo com Froebel, um sistema de símbolos conferido por Deus. Era necessário desvendar tais símbolos para conhecer o que é o espírito divino e como ele se manifesta no mundo. A criança, segundo o educador, trazia em si a semente divina de tudo o que há de melhor no ser humano. Cabia à educação desenvolver esse germe e não deixar que se perdesse.

Educação espontânea

O caminho para isso seria deixar a criança livre para expressar seu interior e perseguir seus interesses. Froebel adotava, assim, a idéia contemporânea do "aprender a aprender". Para ele, a educação se desenvolve espontaneamente. Quanto mais ativa é a mente da criança, mais ela é receptiva a novos conhecimentos.

O ponto de partida do ensino seriam os sentidos e o contato que eles criam com o mundo. Portanto, a educação teria como fundamento a percepção, da maneira como ela ocorre naturalmente nos pequenos. Isso não quer dizer que ele descartasse totalmente o ensino diretivo, visto como um recurso legítimo caso o aluno não apresentasse o desenvolvimento esperado. De modo geral, no entanto, a pedagogia de Froebel pode ser considerada como defensora da liberdade.

Novo conceito de infância na Europa

Retrato da família de Maximiliano I, da Áustria, do século 15: crianças com feições de adultos
Duas tendências históricas são essenciais para a compreensão da obra de Froebel. Uma é a valorização da infância – que passou, entre os séculos 18 e 19, a ser encarada como uma fase da vida com particularidades bem marcantes e com duração longa (é dessa época também o surgimento do conceito de adolescência). Havia pouco tempo, era comum meninos europeus de 7 anos entrarem para as Forças Armadas. Cerca de um século antes do nascimento de Froebel, tamanha era a mortalidade infantil que a infância não passava de um período de "teste" para candidatos a adultos. Na Idade Média, segundo o historiador francês Philippe Ariès, a idéia de infância simplesmente não existia: as crianças eram adultos à espera de adquirir a estatura "normal". Outra tendência histórica marcante do período em que Froebel viveu foi o individualismo burguês, simbolizado pela figura de Napoleão, que encarnava o ideal do homem que se fez sozinho e se tornou imperador da França.
O educador acreditava que as crianças trazem consigo uma metodologia natural que as leva a aprender de acordo com seus interesses e por meio de atividade prática. Ele combatia o excesso de abstração da educação de seu tempo, argumentando que ele afastava os alunos do aprendizado. Na primeira infância, dizia, o importante é trabalhar a percepção e a aquisição da linguagem. No período propriamente escolar, seria a vez de trabalhar religião, ciências naturais, matemática, linguagem e artes.

Froebel defendia a educação sem imposições às crianças porque, segundo sua teoria, elas passam por diferentes estágios de capacidade de aprendizado, com características específicas, antecipando as idéias do suíço Jean Piaget (1896-1980). Froebel detectou três estágios: primeira infância, infância e idade escolar. Em seus escritos, ele demonstra como a brincadeira e a fala, observadas pelo adulto, permitem apreender o nível de desenvolvimento e a forma de relacionamento infantil com o mundo exterior.

Froebel não fez a separação entre religião e ensino, consagrada atualmente, mas via a educação como uma atividade em que escola e família caminham juntas, outra característica que o aproxima da prática contemporânea.

Para pensar
Froebel chegou a suas conclusões sobre a psicologia infantil observando as brincadeiras e os jogos das crianças. Diante das atividades espontâneas de seus alunos, você já pensou que tem a oportunidade de entender a psicologia de cada um e também de depreender algumas características da faixa etária a que eles pertencem?

Bibliografia:

http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/per05.htm


Kishimoto & Pinazza. Froebel: uma pedagogia do brincar para a infância. In: Formosinho, Kishimoto e Pinazza. Pedagogia(s) da Infância; Dialogando com o passado construindo o futuro. Artmed, 2007.

KISHIMOTO, T M; Froebel e a concepção de jogo infantil. In: Revista da Faculdade de Educação, São Paulo, v.22, n.1 , p.145-68, jan./jun. 1996.

http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:ifQ7Ub6FPkoJ:pt.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Fr%C3%B6bel+FRIEDRICH+FROEBEL&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br

http://revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/4-a-6-anos/formador-criancas-pequenas-422947.shtml